29.7.18

Recebi um elogio imenso que deixou meu coração aquecido por um bom tempo: sim, é verdade, eu tenho brilho!
Talvez isto explique porque as pessoas gostam de estar comigo.Sempre achei que fosse o bom papo, a retórica, mas talvez seja mesmo brilho.
Em todos os encontros dos quais participo, quando me dou conta, já tem uma roda de gente à minha volta.As pessoas puxam as cadeiras e vão se chegando e em pouco tempo embalamos na conversa, os temas vão surgindo, o contexto vai pulando de um assunto para outro e assim passam-se horas.Cada um que chega me beija e me abraça, não sou assim tão efusiva e normalmente não gosto de tanta pegação, mas confesso que no momento isso me faz muito bem.
Conto casos, as pessoas prestam atenção, pedem conselhos.Me assusto como confiam no que eu digo, é muita responsabilidade, não sou dona da verdade, nem de longe.
Ontem tivemos mais um encontro da turma da faculdade e o papo correu animado do meio dia às quatro da tarde.De repente aparece um músico.
Quando o vi chegando, de chapéu e violão, logo pensei:
- Danou-se, lá vem sertanejo...
Que nada, fiz mal juízo do sujeito e mentalmente pedi perdão.
Ele tocou música popular brasileira de qualidade: Adoniran, Ivan , Alceu , João Bosco, Clube da Esquina e Caetano.Voltei no tempo, viajei, cantei junto, foi bom demais!
E de Caetano não deixou de fora: Você é linda, Você não me ensinou a te esquecer (letra do Fernando Mendes) e Lua e Estrela ( Letra do Vinicius Cantuária).
Na primeira fiquei em silêncio, mal escutava o que os outros diziam, na segunda eu cantei junto, bem, e na terceira, eu brilhei:



Porque se é prá voltar no tempo, pega na minha mão e vem comigo.
Nisso não sou boa, sou ótima.
Sim, eu tive um anel de lua e estrela.


Como romântica incurável, apesar dos dois pés fincados na realidade, adoro essa música e o refrão:

And then I go and spoil it all
By saying something stupid
Like I love you

25.7.18

Pára tudo!
Me peguei lendo um livro intenso, muito bom, mas extremamente pesado: As últimas testemunhas, de Svetlana Alexievich.
Pensei que talvez não seja o melhor momento da minha vida para me envolver com tema tão humano e doloroso, uma visão única da guerra, relatos de sobreviventes, todas crianças, que carregam consigo lembranças muito amargas.
Resolvi parar e voltar num outro momento.
Já basta o que tenho escutado dos médicos nas últimas semanas, são hipóteses, prognósticos, de um futuro um tanto sombrio.
Mas pera lá, eu me sinto ótima.Então por que raios vou me deixar levar pelo desânimo?
Nani nani não.
Quero ler coisas leves, necessariamente não tão leves assim, mas enfim, quero palavras como as da Luciana, no Borboletas nos Olhos:

"Pode ser o jeito como você anda. O timbre da sua voz. O modo como qualquer parte do meu corpo parece caber exata na sua mão. O cheiro morno do seu pescoço. A forma como para, às vezes, e fica me olhando nos olhos mas vendo uma pessoa que eu não sei direito ser. Logo se agigantam os meus braços, se movem descoordenadas as mãos, o corpo bambeia e a pele fica quente. Ou pode ser só aquele vinco que todas as suas calças tem, tão bem engomadas, tão estranhas ao seu jeito distraído. Pode ser porque era tarde, a vida em crepúsculo e tem tons mais lindos que os de bronze, laranja e aquele amarelo avermelhado mesmo que provavelmente já tenha ido mais tempo do que o que vem? Pode ser porque você nunca diz o que eu espero, mas sabe suspirar na hora exata quando vê um filme que eu gosto. Pode ser apenas porque fizemos ser, sempre fui boa em inventar histórias e você, é bom em quê?"


21.7.18

Outro dia li que quando você está passando por algum problema de saúde, você deve escrever sobre ele.Os pesquisadores descobriram que a recuperação é melhor quando a pessoa escreve.
Assim sendo eu vou escrever, independente de alguém ler ou não, o objetivo não é bem este.
Fui diagnosticada com Polineuropatia Periférica Sensitiva Motora Axonal, com suspeita que seja imuno baseada.
Fiz todos os exames de sangue que poderiam identificar uma doença causada por infecção ou vírus e todos deram negativo.
No final da semana passada fiz uma punção de liquor.Os resultados saem dia 05/08.
Neste momento eu queria parar tudo, parar de procurar o que está afetando a sensibilidade e os movimentos dos meus pés e tornozelos.
Pelo resultado parcial dos exames a esclerose múltipla está descartada, mas sobram ainda o Mieloma Múltiplo e a Sindrome de Guillan Barré.
Ou pode ainda ser algo não identificável, caso todos os exames deem negativo.
Quando procurei o médico eu só queria saber se isto é reversível.
Minhas perspectivas de cura, baseada nas suspeitas do médico, estão diminuindo e o que eu queria agora é somente a certeza de que o quadro não vai evoluir.
Quem sabe escrevendo dá certo!


16.7.18

Hoje acordei um pouco dramática, mas feliz!
Um bocado dolorida também por conta de uma punção na lombar.
Mas vamos em frente que tem mais...

11.7.18

O bom de fazer aniversário são mesmo as mensagens dos amigos e o desejo interno do dever cumprido com excelência.
Ontem uma amiga brincou que cheguei a uma boa idéia, numa referência ao slogan da Caninha 51.
Pensando bem acho que sempre fui uma boa idéia, sou excelente companhia.Dificilmente alguém já me viu de mau humor, isso é raríssimo e o mundo tem de estar prestes a acabar para que eu fique levemente ranzinza.
Gosto dos elogios e votos de aniversário porque sempre desejo o melhor para os outros.Não sou uma pessoa egoísta, tanto que meu melhor presente de aniversário ontem foi a confirmação do resgate dos doze meninos e do técnico de futebol na Tailândia.Na verdade me emocionei...
Eu sou assim, uma verdadeira explosão de emoções, por isso penso que é bom demais conviver comigo!
Agora quero curtir com muito boas vibrações o início dos meus 51 anos!!!

8.7.18

Hoje acordei meio Zé Ramalho...
e ainda fui assistir Hanami, da diretora alemã Doris Dörrie.
Aí é impossível não cair no campo das reflexões.
Vou relaxar, vou prá cozinha produzir algumas coisas!
Tchau



7.7.18

O que aprendemos com nossa ancestralidade russa é a ter coragem diante de qualquer situação adversa ou não confortável.
Tá certo, coragem eu tenho, mas isso não evita alguns raros momentos de fragilidade.Na quinta feira passada eu dei uma escorregada e quase desabei.
Talvez eu não estivesse preparada para receber a notícia de que algo está errado e que provavelmente minha neuropatia periférica sensitiva seja consequência de alguma doença auto imune rara.
Desde junho percebi que a dormência dos meus pés havia piorado, agora são também os tornozelos,  achei que fosse por causa do frio, e assim voltei ao neurologista.Este me encaminhou para um especialista.
Repeti uma eletroneuromiografia e coletei 13 tubinhos de sangue para a realização de mais de 30 exames.Folgo em saber que não tenho algum tipo de Hepatite, Lúpus, Aids, Sífilis, Tuberculose, Reumatismo, Lepra, Doença Celíaca e algumas outras ites e oses.
Continuo com um diagnóstico inconclusivo.
Na próxima sexta feira passarei por uma coleta de liquor para uma busca detalhada por eventuais agentes estranhos que possam estar comprometendo o bom funcionamento dos meus axônios.
Na outra semana uma série de exames chamados Potenciais Evocados, que avaliam as conduções nervosas no corpo humano. Já sei que levarei choques de novo...coisa desagradável, viu?
Mas eu quase desmontei mesmo quando o médico disse que se suas suspeitas forem confirmadas ele terá que entrar com medicação pesada para impedir o avanço do que é que esteja causando a neuropatia, e ressaltou que não será fácil. Ou seja, até compreendi que ele estava tentando me preparar, mas assim, de supetão, a gente toma um choque.
Aí sai do médico, sentei no banco do carro e chorei.Nem sei bem porquê, mas sim porque naquele momento eu estava extremamente frágil.
Hoje já estou bem, animada com a possibilidade de voltar à dirigir, com as mãos.
Quanto à cirurgia que eu teria de fazer, ela vai ter que ser adiada, pelo menos até descobrirmos o que está acontecendo comigo.
Acho que o que mais me incomoda são as incertezas e pelo jeito terei que esperar pelo menos mais um mês por uma resposta mais objetiva.Não está nada fácil, mas como a coragem está no sangue e na mente, pode vir que eu estou preparada!
Perdoem o desabafo, mas era necessário para manter a mente e o coração tranquilos.


Imagem: site Sputinik/Alexey Malgavko