20.11.09

Hoje também comemora-se o 20º aniversário da assinatura da Convenção dos Direitos da Criança. Penso nas crianças do abrigo e não tenho como não entristecer-me.É não é porque sejam brancas, negras ou coloridas. Nem porque tenham Aids e sejam vítimas de espancamento e abusos sexuais.Mas sim porque são prisioneiras sem delitos que justifiquem estarem lá.
Ontem fui levar uma quantidade considerável de doações, porque felizmente ainda existem pessoas de bom coração e que se lembram de compartilhar o pouco ou o muito que possuem, mas isto não importa, com o próximo.Não quis entrar, eu tinha uma reunião logo em seguida e como neste calor de rachar eu fico mais lerda, não arrisquei perder a hora. Enquanto descarregavam o carro fiquei observando a casa pelos arbustos que nos separam do alambrado. Duas crianças estavam na varanda. G., um menino de mais ou menos 3 anos que brincava sozinho.Ele dirigia pelo ar seu caminhãozinho de brinquedo.No que será que pensava? Pouco depois fiquei sabendo que ele sairá do abrigo. A assistente social encontrou o avô paterno e ele voltará para uma família.Talvez, se eu tivesse observado com mais cuidado, teria percebido que sua brincadeira denunciava a esperança de sair de lá, voando num caminhãozinho que cabia todo em sua mão.
Depois fiquei observando J., uma menina doce e calada que logo mais completará 9 anos de idade. Praticamente todos vividos lá dentro daqueles 300 metros quadrados, já contando o quintal e a pequena rua aonde brincam nos dias menos quentes. Seu olhar estava longe, além do portão, dos muros e do alambrado disfarçado por plantas.O que me deixa pior é saber que entra dia, sai dia, essas crianças nunca saem para dar uma volta, daquelas sem rumo que costumamos dar. Nunca foram ao cinema e nem conhecem o mar.
E tem quem diga que elas vivem bem, na verdade até eu digo isso. Vivem bem porque cada qual agora tem sua cama, roupa de cama lavada, escola, roupa para ir à escola e comida na mesa.Em algums países do mundo isso é considerado luxo. Mas aqui me pego na construção de um ser humano que sonha e deseja.
Como será que idealizam o mundo aqui fora? Quantas já saíram de lá e voltaram para lugares aonde falta quase tudo? Como será que elas se sentem? Quantas já saíram de lá e vivem internadas porque não tomam a medicação como deveriam? No abrigo falta afeto, lá fora falta quase tudo e algumas vezes até afeto. Por que é que desistem assim tão facilmente de nossas crianças? Aonde está o erro? Que futuro é esse que construímos? Eu não posso mudar o mundo, mas posso tentar fazer a minha parte e reclamar do que eu consideredo injusto, ou triste.

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