12.8.09

“Shakespeare tornou-se o grande mestre da sondagem do abismo existente entre o ser humano e seus ideais.” Harold Bloom ( Shakespeare – invenção do humano)
Muitas vezes me pego entre o "ser" e o "estar". Adoro as tragédias shakesperianas, que nem acho tão trágicas assim quando avalio a natureza humana. Considero-as um simples caso de reação causal, muito bem inserido no contexto, por exímio escritor.
De cara, em Hamlet já encontramos a famosa frase: Ser ou não ser, eis a questão.Nesta caso o personagem não era, estava sendo.E sendo atormentado por uma dúvida.
"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais."
Sua única certeza é que não poderia mais dormir, pelo menos tranquilamente.
E quantas vezes nos pegamos atormentados por uma dúvida de sermos isso ou aquilo, quando na verdade podemos só estar experimentando um momento transitório da vida. Pensando assim nunca somos e somente estamos.
Na língua inglesa por exemplo expressamos da mesma forma essas duas condições com o verbo To Be. Então porque estaria eu aqui dizendo que muitas vezes fico entre o ser e o estar? Porque acredito que exista mesmo um abismo entre o ser humano e seus ideais.E na minha visão otimista ele é totalmente transponível. Eu sinto que sou quando estou imóvel e estou quando em movimento. Do modo como vivo ando constantemente "sendo" e "estando" 24 h por dia, todos os dias.E o dia que eu deixar de ficar entre o "ser" e o "estar", eu morri. Ou dormi profundamente como Julieta.
"Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel."
Veremos também o abismo, desta vez fatalmente instransponível em Otelo.O que me faz pensar o quão observador Shakespeare era. Acredito que o que me falte para não mais ficar entre o "ser" e o "estar" seja um pouco mais de observação, maturidade e idade.E desconfio que irei descobrir que o melhor da vida é poder ser e estar ao mesmo tempo :o)

Um comentário:

Vera das Alterosas disse...

De todos os seus posts que já li, este foi o que mais me tocou. Muitas coisas podemos pensar a partir dele. Realmente, Sheakspeare é um monstro quando descreve a natureza humana. Sou menos otimista que você. Acho que nem sempre o abismo entre ideal e real pode ser transposto, mas, ainda assim, perder o ideal é seguir sem rumo, sem bússula, é literalmente estar "no mato sem cachorro". Acho que se um dia nos encontrássemos íamos ter muito o que conversar: causos mineiros quentando à beira do fogão de lenha. Coisa boa. Bj e bom fim de semana Turmalina ( nome também de uma cidadezinha do vale do jequitinhonha em Minas....lembra da letra de Itamarandiba?)