21.11.12

Minha boa e velha amiga

Sei que minha urgência em amar e sentir-me amada parece muitas vezes exagerada. Refletindo sobre essa urgência penso que a responsável seja mesmo a morte. Desde a minha concepção, ela se fez presente algumas vezes, me sorriu e foi embora. Sempre de forma sutil e amável.
Gostaria de perguntar à ela o propósito de vir visitar-me tantas vezes e manter-me aqui. Na primeira vez eu estava ainda no útero da minha mãe.O meu mundo parou com o choque sofrido pela minha mãe com a morte da minha avó. No momento do meu nascimento novamente tudo parou.E quando a face da morte sorri para você, você pára de existir.O coração pára de bater e o mundo exterior fica bem distante, quase uma outra realidade.
Tinha até me esquecido dela quando aos 17 anos sofri um acidente de carro. Desta vez eu desmaiei e quando acordei vi a minha amiga já distante.Mas mesmo assim meu mundo parou. Eu não ouvia coisa alguma e as imagens eram confusas.Ela acenou-me de longe e partiu. 
O último encontro foi no assalto violento que sofremos.E apesar de fazer-se presente, desta vez ela me acalmou.Depois que ela sorriu para mim e foi embora, eu pude respirar aliviada e enfrentar com maior tranquilidade os ladrões.Foi o que me permitiu dialogar com eles com a calma que o momento exigia.Acredito que a morte esteja me testando e é com amor que tenho dialogado com ela.Espero que este diálogo se prolongue por muitos e muitos anos...
(Este texto escrevi há pouco mais de três anos)
E assim ontem ela visitou-me mais uma vez.Foi uma passagem rápida, uma fração de segundos. Quando percebi lá estava ela partindo outra vez em companhia de nove sujeitos. Espero que ela tenha piedade deles...   

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