16.4.10

Outra noite fiquei pensando em como estarão nossas crianças no futuro...aonde buscarão a tranqüilidade tão necessária, as pausas, em meio a toda enxurrada de informações que recebem. Como a velocidade da informação e o seu volume sempre crescente nos afeta?
Meu pensamento partiu de uma coisa aparentemente simples.Outra noite fomos jantar numa cidade próxima, coisa de no máximo 35 minutos de estrada.Nesse tempo todo meu filho parece que escutou umas 100 músicas no seu mp3. Perguntei-lhe quantas músicas tinha lá e ele logo respondeu, 216.
Me lembrei de quando tinha a idade dele e perdia quase que uma tarde inteira para gravar uma fita cassete de 60 minutos. Se gravasse as músicas diretamente do rádio, precisava esperar que tocassem as músicas que eu gostava. Já dos LPs eu precisava ficar trocando-os para compor uma boa seleção. Era um serviço lento e trabalhoso.
Hoje conecta-se o MP3 no computador, e voilá, em menos de 5 minutos lá estão 216 faixas.O que eu fico pensando é que a minha geração está se adaptando (e muito bem) à essa tecnologia, mas as novas gerações já nascem dentro desta nova realidade.Como é que o cérebro se adapta à isso? E esta adaptação das ondas mentais, creio eu que seja assim, podem prejudicar nosso físico? Essa aceleração poderia criar uma condição de estresse permanente? Eu sei que a minha geração sofre com os efeitos do estresse permanente. E particularmente eu acho que as novas gerações também, só que muito mais cedo e numa velocidade maior. Espero estar errada.
Tento ensinar meu filho a encontrar prazer em coisas que não estejam ligadas à tecnologia,E, por enquanto, até que ele faz bem a sua lição de casa, porque quando está jogando tênis ou futebol ele consegue se concentrar somente na bola.

Outro dia, ao me ver quieta e em silêncio (o que é raro), me perguntou no que eu estava pensando e eu respondi:
- Estou pensando em nada.
- Como assim, nada? O cérebro nunca pára de pensar.
- Sim...e eu estou pensado em nada. No nada absoluto.
- Isso é impossível!
- Não é não, é treino.E é bom esvaziar a mente de vez em quando.Você devia tentar.
- Mãe, isso é coisa de maluco, não tem como.
- Tá bom...tá bom...não vou discutir, mas agora me deixe pensar em nada mais um pouquinho, ok?

Daí que eu lembrei das palavras do Alberto "Fernando" Caeiro:

"Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso"

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas)."
(continua...)

2 comentários:

isabel disse...

Pessoa tem resposta para todas as nossas inquietações, estados de alma, perplexidades, questões.

Anônimo disse...

Lembro-me da irritação que me provocava o tempo que demorava a gravar uma cassette e como sonhei tantas vezes com um MP3, sem saber o que isso era. Hoje, tenho saudades desses tempos e de ouvir os amigos gabar as minhas selecçõs de músicas.
Ainda há dias falava sobre isso com duas velhas amigas e comentavamos que se houvesse MP 3 nessa época, teríamos perdido muito do prazer que tínhamos em ouvir as minhas cassettes