26.8.09

Nesta manhã, no caminho para o escritório, fiquei a pensar nas afinidades entre as pessoas e tentando entender como elas acontecem. Conheço muita gente, de todos os cantos e de todos os tipos. A casa dos meus pais sempre foi frequentada por todo tipo de gente. Se era amigo do amigo era benvindo. Ainda menina não conseguia aquilatar a extensão dessa receptividade. Numa sociedade hipócrita e cheia de moralismos meus pais tinham um amigo que matou a esposa por pegá-la no flagra com outro.Aliás ele era um poço de cultura.Num rompante, numa crise de ciúmes, num momento de insensatez, ele matou a esposa.Mas como ensinaram meus pais, a nós não cabia julgá-lo, esse era um problema dele com sua própria consciência. E assim ele frequentou nossa casa até morrer, sempre numa relação de amizade e respeito invejáveis.
E assim sendo aprendi a ter um olhar diferente sobre o culpado e o inocente.Descobri que muitas vezes as pessoas são condenadas socialmente sem direito algum de defesa.Isso acontece muito com os que eu chamo de "invisíveis". São aquelas pessoas que vivem pelas ruas e pelos semáforos. As pessoas, no geral, fingem que elas não existem ou então nem olham para o lado com medo. Eu, ao contrário, conheço uma monte delas. Algumas até pelo nome. Tem a Brida, um travesti ruivo de mais de metro e oitenta que fica no semáforo próximo ao escritório.Todo dia a gente bate um papinho. Na semana passada ela sumiu, ontem descobri que é pq estava em tratamento, ela tem Aids, mas passa bem. E aos poucos, sempre que o sinal fecha, ela me conta um pouco da sua vida.Ela não quer dinheiro, nem nada, só um pouco de atenção já lhe basta. E eu sou grata pela forma carinhosa como ela me trata. Tem também o Douglas, um rapaz dependente, ele vive na rua desde que se conhece por gente.No Natal passado ele me pediu um presente, podia ser qualquer coisa desde que viesse num pacote de presente.Esse era seu maior desejo.Eu comprei uma camiseta, fiz um embrulho lindo e entreguei-lhe no dia 24. Esse menino chorou de emoção. Foi o presente que me deu mais prazer de embrulhar. Outro dia mesmo, drogado que só vendo, ele me falava da vontade de estudar para entrar no exército.E como essas, tenho muitas e muitas histórias de gente que vive de forma alternativa. Tem gente que fala que eu sou doida de falar assim com essas pessoas.Mas elas são gente como a gente. Mais do que isso, tenho uma relação de afinidade com elas e fico feliz se sei que estão bem. A diferença está somente no fato de eu ter tido uma vida com muito mais oportunidades.
Ou talvez seja uma questão de ação e reação :o)

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