15.1.09

No silêncio da madrugada dava para ouvir seus passos repetitivos pela sala.A fumaça que saia pela janela da varanda o denunciava.Era sempre a mesma coisa toda vez que a casa ficava vazia.Sentia falta das suas risadas e até mesmo do seu matinal mal humor, durava tão pouco. Aprendera direitinho como contorná-lo.O que ela mais gostava era de um abraço terno, sem exageros.Ela sim era exagerada, seus beijos pareciam uma explosão nuclear. Que estrago!
Se apaixonara por seu olhar.E depois de tantos anos ela mantinha aquela expressão de menina levada prestes à aprontar e dar risada.
Não, ele não se arrependia de nada nesta vida, nem de deixá-la livre para crescer.Mas como doeu vê-la amadurecer e criar asas.Por ele, ela permaneceria sempre sob suas asas.Deixar a pessoa livre faz parte do amar, ela fazia questão de dizer sempre que ele ameaçava reclamar.
O calor era insuportável. Ele abriu o congelador e se serviu de uma dose generosa de uma licorosa vodka gelada.Logo, logo estaria rindo das bobagens que ela diz.E ele então, toda vez que precisava dizer algo importante se enrolava todo.E ela ria.
Sim ele se apaixonara também pelo seu sorriso.E quando ela sorria e deixava escapar algumas lágrimas ao mesmo tempo? Ele sentia que nunca a entenderia por completo, ela era um poço de incongruências. Não dava mesmo para compreender o que passava na cabeça dela.
Mas ele se encantava mesmo quando ela entrava em casa toda esbaforida querendo contar algo.Aí falava pelos cotovelos.Ao contrário de quando estava chateada, que aí é que não falava nada mesmo.Mas durava pouco, era só chegar com umas flores e um grande pedido de desculpas, que estava tudo resolvido.
Aquela mulher tão bem resolvida e decidida, em seus braços, parecia um frágil cristal prestes à trincar. E que cristal mais belo, faíscava vida e alegria. Ele nunca a vira chorando. O máximo era chegar em casa e encontrar os olhos um tanto inchados que ela logo fazia questão de disfarçar.
Sim, seu cheiro, era isso que ele achava irresistível.Seu cabelo, sua pele, seu sorriso, eram sempre perfumados.Como podia, depois de tantos anos aquela pele continuar tão macia? Devia ser a tal da química dos corpos.
O dia estava quase amanhecendo e lá continuava ele pensando em todos esses anos de convivência.Eram tantos que já perdera a conta.E por que será que toda vez que ele conseguia se aproximar ela se afastava?
Infelizmente essa resposta ele nunca teria, afinal ela vivia dizendo: ame-me ou deixe-me. Aí quem ria era ele, que respondia à altura com: decifra-me ou te devoro.E assim continuava tudo como sempre foi, na mesma, com absolutamente nada de novo.
Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte quando o telefone tocou. Era ela, avisando que o avião acabara de pousar e que estava tudo bem.Agora sim ele podia dormir!
(autoria da própria autora do outro post abaixo)

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