18.1.09


Ela esperara anos por esse momento.Nem saberia ao certo dizer quantos. Uma coisa era certa e definitiva, depois de tantos anos seu pavor de voar continuava o mesmo. Até terapia havia feito para solucionar o problema, sem sucesso. Ele ria. Afinal, homem viajado estava acostumado à esse sobe e desce, além das habituais turbulências.
E foi no meio de uma dessas turbuências que ela lhe perguntou se ele tinha certeza do que estavam fazendo.Sim, claro que sim, absolutamente sim foi a resposta dele.Suas mãos agora estavam geladas, não só pelo medo de avião como também pelo medo do que viria pela frente. É dificíl pensar no que vem pela frente aos 58 anos.
O comandante anunciara que estavam sobrevoando a cidade de Roma.Seu coração bateu mais forte.Sentindo seu aparente nervosismo ele lhe deu um delicado beijo na testa.Hora de afivelar os cintos.Agora não tinha mais volta. Estava tudo lá em San Gimignano, no coração da Toscana.A casa, os sonhos e a esperança de uma nova vida.
Ainda não se conformara com a idéia de ir tão longe para ser feliz. Achava que poderia ser feliz com ele em qualquer lugar. Mas ele, teimoso como era, não pensava assim.A diferença é que uma vida inteira, enquanto ela esperava, ele sonhava. Optou então pela realização de um sonho.
Ela despertou de seus pensamentos quando as rodas do avião tocaram o solo.Eram 7 horas da manhã de um dia seguinte e o martírio havia terminado.
Ela continuava não entendendo como havia concordado com tal desatino. Prá começar, há mais de 30 anos eles nunca concordavam e na Itália não iria ser diferente.Ele queria alugar um carro, ela queria ir de táxi, venceu o carro, é claro.Aos 65 anos, sua visão já não era mais a de um rapaz, mas ela não disse nada, não queria desestimulá-lo nessa sua grande aventura.O trânsito em Roma é caótico e foi um sufoco conseguirem pegar a auto estrada em direção à Toscana.
Depois de quase 3 horas de curvas , alguns desvios "acidentais" e muitas paradas para pedirem informações, finalmente chegaram ao centro de San Gimignano.Ela lembrou-se de fazer algumas compras, afinal não sabia o que iam encontrar em casa. Casa? Sim, era a sua casa, uma casa que só conhecia por fotografias.Toda a reforma fora feita por meio de e-mails.
Como fora dificíl encontrar um local para fazer compras básicas na cidade. Por todos os lugares só se viam turistas. Enfim, encrustrado numa ruazinha encontraram um mercadinho bem simpático.Compraram frutas, verduras, queijos, manteiga e pães frescos.O corretor garantiu-lhes que deixara a dispensa e a geladeira abastecidas para sua chegada.Em todo caso era melhor garantir pelo menos o lanche da tarde.
Com o mapa em mãos partiram por pequenas estradas poeirentas e sinuosas.Era uma jornada que não acabava.Estavam exaustos, mas nenhum dos dois admitiria o cansaço.O dia já estava chegando ao fim quando encontraram finalmente o endereço que tinham em mãos.Estacionaram o carro em frente à porta principal. De lá podiam avistar praticamente a Toscana toda.
Não havia nada entre eles e o resto do mundo, além da natureza.Em tempos modernos, para qualquer pessoa, pensar em viver nesse total isolamento urbano seria desesperador, mas para eles não, iriam ser felizes.Este era o começo de uma nova vida!
(C.L.)

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