2.2.20

Não sei em que momento exatamente me tornei uma leoa, alí naquela pedra do topo, sozinha mesmo acompanhada, observando a paz e a ordem que eu aprendi a manter.
Tudo isso exige um tipo de controle que uma hora começa a cansar.Com o avanço de novas tecnologias e das mensagens instantâneas nos tornamos disponíveis 24 horas por dia.Assim fica fácil sempre ter uma solução, sempre pensar pelos outros.Os outros é que passaram a pensar menos uma vez que você está sempre disponível .
Outro dia, durante a sessão de acupuntura, me peguei respondendo mensagens "urgentes".  E parece que todo dia temos urgências.
Este ano resolvi descer da pedra e levar uma vida mais normal, não quero mais ser aquela mulher que chegou aonde muitas ainda querem chegar.A fama e o sucesso são, muitas vezes, armadilhas do ego.
Teve um dia, há uns três anos atrás, que eu estava numa palestra, que hoje chamamos de bate papo porque ficamos sentados no palco em poltronas confortáveis, mas o conteúdo ainda é o mesmo, que  olhei para platéia e mentalmente me perguntei: o que estou fazendo aqui?
Eu estava lá compartilhando conhecimentos adquiridos durante toda a minha vida com estranhos e alguns poucos conhecidos.Mas aquilo tudo que nem sei se foi absorvido é muito raso, talvez um ou outro gatilho leve a pessoa a pensar. Foi a primeira vez que repensei minhas atividades, que na época eram muitas.Aí decidi me jogar de cabeça no meu trabalho na empresa, aquele que realmente paga minhas contas.Dei conta mas não gostei do tanto de responsabilidades que adquiri.
Até que um dia desses acordei querendo colocar em prática uma adaptação de um projeto da Dra Silvia Bellucci, fundadora do Centro Corsini. Ela queria trabalhar a escrita criativa e terapêutica com as crianças do abrigo e eu penso em trabalhar com adultos e idosos.Num universo tão impessoal como as redes sociais e com mensagens cada vez mais curtas não existe mais o tempo necessário para maturarmos nossas idéias e pensamentos.Quando escrevo eu descarrego uma porção de sentimentos como desejos, frustrações, saudades, dores e todo tipo de vivência.Quero passar isso para quem tem dificuldades e estou precisando desse tempo, dessa oportunidade de doar o que tenho de melhor.
O mundo corporativo nos torna muito impessoais,     
Fora que sem minhas rodinhas, tudo fica mais difícil, outro dia fui à um compromisso sozinha e usei o serviço do Uber pela primeira vez. O rapaz foi um encanto, super prestativo e tal, mas eu tive vontade chorar.Assim que voltar das minhas curtas férias vou treinar novamente até conseguir fazer uma porcaria de uma baliza com o carro adaptado.
Aí sim me sentirei mais eu!
A música abaixo me lembra os dias em que eu saía da faculdade e ia almoçar num restaurante cujo cardápio era baseado nos preceitos da filosofia Hare Krishna, como o Gopala, em São Paulo.

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