12.3.10

Só hoje consigo falar sobre como foi o meu Dia Internacional da Mulher. Sim, eu até escrevi sobre o pãozinho e a rosa que ganhei na hora do almoço.Mas neste dia eu não fui trabalhar. Acordei cedo e fiquei esperando minha cunhada , que vinha da capital com o carro carregado de doações para o abrigo (UAI - Unidade de Apoio Infantil), do Centro Corsini. Desde bem cedo eu tentava falar com algum responsável para saber aonde descarregaríamos as doações, porque eles tem problemas, também, de espaço para armazenamento.Eu não conseguia resposta e um dos motivos é a alta rotatividade dos funcionários. O trabalho lá não é fácil, a carga emocional é muito forte e a instituição não pode pagar altos salários. E cada vez que mudam os responsáveis, a comunicação fica péssima. Minha cunhada ligou da estrada dizendo que estava chegando e eu decidi que íamos assim mesmo. Outra pessoa talvez tivesse desistido, afinal outras instituições também precisam de ajuda. Antes de sair telefonei uma última vez e fiz um discurso de página inteira sobre comprometimento e responsabilidade.É mais ou menos aquela coisa de que se não é para cuidar dos filhos, por que é que as pessoas fazem filhos? Se não é para se comprometer com essas crianças, por que é que a pessoa vai trabalhar numa instituição dessas?Aquelas crianças precisam de tudo e principalmente de quem verdadeiramente se importe com elas, para que o abrigo não signifique somente um depósito de crianças com problemas.Minhas reclamações surtiram efeito porque a assistente social estava lá quando chegamos.E eu insito porque sei que eles precisam, pois os acompanho de perto desde 2007. Em três anos eles já tiveram, por exemplo, quatro assistentes sociais diferentes.
Como eu suspeitava, eles continuam necessitados de muitas coisas, inclusive os dois berços que levamos já iam ser montados porque alguns bebês estavam ainda dormindo em carrinhos por falta de cama. Na nossa última visita mais demorada, um pouco antes do Natal, estava tudo bem, dentro do possível. Sou uma pessoa que muito mais do que vejo, eu sinto.E a energia e o astral das crianças estava alta. Já não posso dizer o mesmo do último dia 08. Elas estavam todas bem cuidadas e com certeza melhor lá do que na rua. Mas o abraço delas estava diferente, mais forte, mais demorado, mais sentido. Prometemos voltar em breve e com mais tempo. Eu saí de lá em pedaços, porque sou de carne, osso e coração.
Oswaldo Montenegro já escreveu e eu repito:
"Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio."
(...)
"Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas."
(...)
"Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão."
(...)
"Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço."
(...)
"Porque metade de mim é amor
E a outra metade também."

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