8.4.09


Polêmicas à parte, deixo de lado o meu lado mais contestador para fazer minhas as palavras da Martha Medeiros, principalmente o último parágrafo:

"Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio de Mário Quintana: 'Para estar ao lado sem pesar com a presença'.
Há outras histórias e poemas interessantes no livro, mas me detive nesta frase porque não pesar aos outros com nossa presença é um raro estalo de sensibilidade. Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura.
Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário. Ah, pesa. Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados. Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado. Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone.
Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas. Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho. Pessoas estão jantando. Pessoas estão preocupadas. Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo. Pessoas estão chorando. Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito. Pessoas estão se amando. Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los, sabendo que nada interromperei do lado de lá. Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade. Dizemos pelo computador coisas que, face a face, seriam mais trabalhosas. Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo? Nem se discute que o encontro é sagrado. Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios. Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela.
Quando mando flores, vou junto com o cartão. Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto. Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço."
Martha Medeiros
Foto e receita dos quindins: Chocolatria

5 comentários:

Luci disse...

Martha Medeiros: tudo de bom!
Sis, devo estar em Limeiracity na pascoa, confirmarei!
beijos achocolatados

Luci disse...

outra coisa q é tudo de bom é este site Chocolatria que vc indicou.

ameixa seca disse...

Sabes que mais? Adorei este post... cheio de verdade e sensibilidade. Concordo em absoluto com tudo! As pessoas têm o espaço delas e, muitas vezes querem até estar sozinhas em silêncio. Acompanhar sem pesar devia fazer parte do programa de educação de todos nós :)

Giane disse...

Turmalina...

Então eu Agradeço.
Por cada Abraço deixado através de Suas Palavras.
Presença Querida, Amiga e nunca invasiva.

Beijos mil e Feliz Páscoa para Você e os seus!!!

Layla disse...

Recebi esse seu texto por e-mail, e é impressionante como concordo com cada palavra... Quanta delicadeza anunciar ao outro nossa chegada, pedir permissão para entrar. Aprendemos a fazer isso com quem não temos intimidade, com quem não conhecemos e mantemos relações formais... E nos esquecemos de praticar com quem mais convivemos, com quem repartimos a vida... Um beijo e obrigada pelas palavras.
Salaam
Layla