28.6.17

Fugindo de palavras como polineuropatia, eletroneuromiografia, velocidade de hemossedimentação e hipoestesia, procuro abrigo na música, ou ainda, na poesia de Mia Couto.
Enquanto espero, escuto.

Para Ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
No livro “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”

15.6.17

Fiz as contas e descobri que não faz um ano que não dirijo e sim dois!
No começo não me importava tanto, mas o tempo vai passando e a falta de liberdade de ir e vir , quando e como quero, começa a incomodar.
Minha consulta do dia 13 foi inconclusiva.Por que eu não gosto de ir à médicos novos? Porque eles sempre nos mandam em outros médicos.Conclusão: segunda feira irei a um neurologista.
E neurologistas sempre pedem muitos exames.
Não sei para quê tanto, eu me sinto ótima, só não sinto as pontas dos pés.O que afeta diretamente meu equilíbrio e não me permite ter segurança para dirigir.
Lá vou eu outra vez para uma batelada de exames.
Era tudo que eu não queria!
Tem quem goste, mas eu não.
Eu bem que tento mas tá complicado ser dona das minhas vontades.
Ô Vida, facilita aí.

11.6.17

Shigeru Umebayashi é um compositor japonês, apaixonado por cinema, com participação em mais de 50 filmes.



People moving all the time 
Inside a perfectly straight line 
Don't you wanna just curve away?




O fato de amar os desenhos do Studio Ghibli não significa que eu não goste da Disney!
Tem lugar para todos no meu gostar.

9.6.17

Vou dormir pensando na frase que li hoje:

"Ninguém sabe ao certo o impacto que causamos na vida dos outros"

Sabe que eu não sei...


8.6.17

Não vivo sem música, ela alimenta minha alma.
E depois de assistir a série Seyit ve Sura, super melodramática, fiquei ainda mais emotiva.
Ok, uma coisa parece não ter ligação com a outra, mas tem!
O veículo é a música e a relação é o lugar para onde ela nos transporta.



Aí tenho que abstrair mesmo!

4.6.17

Logo mais eu completo 50 anos...olhando assim não parece tanto, mas é.
O que eu poderia dizer da minha experiência até então?
Meninas, sejam fortes, independentes, "emponderem-se" (está na moda, né?), mas não deixam que percebam o quanto vocês são fortes.
Meu pai sofreu um grave acidente quando eu tinha de 12 para 13 anos de idade.Ele passou 8 meses numa cama hospitalar.Eu tive que aprender a crescer, a ser forte e a não precisar da ajuda dos meus pais.Depois morei sozinha, em seguida voltei para casa e me dediquei aos estudos como faculdade, cursos, estágios e etc.Foram muitos e meu muito bem em tudo o que fiz.
Fui ganhando força, muita força!Assim as pessoas me viam e assim eu queria ser vista.Desde a minha bisavó russa era inadmissível demonstrar fraqueza dentro e fora de casa.Isso deve ser parte do orgulho eslavo.
Hoje, quando algo de ruim acontece sou eu quem abraça os outros, quando na verdade eu é precisaria ser abraçada.
Não é porque eu aguento bem, que eu não sofro. Aí tem relação com o que eu sinto e não com a forma como eu reajo.
Minha armadura é de ferro, mas meu coração, de melão.


Mas como dizia meu pai:
- Deixa prá lá!


28.5.17

Dearest belly button...achei bem mais sonoro do que : Querido umbigo.
Estou ansiosa, contando os dias para minha consulta com a acupunturista. Faltam 16 dias para iniciar um novo processo na tentativa de voltar a dirigir e andar sem auxílio.
Ou melhor, primeiro voltar a andar como todo mundo e depois dirigir, que é algo que eu sinto muita, mas muita falta mesmo.
Hoje amanheceu um dia lindo, ensolarado, radiante!
Eu queria poder pegar o carro e seguir alguns quilômetros pela estrada, com os cabelos ao vento (eu costumava secá-los assim), escutando minhas músicas favoritas.Com outra pessoa no volante não é a mesma coisa.Sempre vi o carro como uma extensão das minhas pernas, me levando aonde eu dificilmente iria chegar sozinha em tão pouco tempo.Já se passaram quase dois anos...


Mas enfim, uma luz no fim do túnel se manifesta, embora ainda muito discretamente.
E otimismo é uma das minhas melhores qualidades!!!

21.5.17

A chuva nos deixa mais melancólicos e para completar desde ontem eu só escuto o Ivan Lins com a Orquestra de Câmara da ULBRA:



Esta versão de Bilhete é de transbordar o balde:

20.5.17

Blue Jay (2016) é um filme que traduz facilmente algumas relações da minha geração.
Uma produção modesta, equipe reduzida, encenada e escrita por Mark Duplass. Praticamente um filme feito em casa que vai agradar exatamente quem entende o que ele está dizendo.Com apenas dois personagens e uma pequena participação de Clu Gulager.
Em alguns momentos parece que estamos revendo aquelas fitas em VHS que guardamos por anos em caixas de papelão já desbotadas pelo tempo.Ou então as fitas K7 guardadas com aquelas cartas que nunca tivemos coragem de jogar fora.
Como roteirista eu cortaria alguns diálogos pela metade, em alguns momentos eles são prolixos.
Gostei de assistí-lo.Ele é um resgate de um amor romântico, na verdade daquele primeiro amor significativo na vida de uma pessoa.Dos planos e dos sonhos que construíram juntos quando na verdade não existiam perspectivas para que eles se concretizassem.Mas o romantismo permitia isto.
Não vejo mais este tipo de relacionamento nos dias de hoje.
Todo o contexto traduz o que vivemos, ou então, que poderíamos ter vivido.
Filme indicado para pessoas que nasceram entre 1950 e 1970 e que em algum momento experimentaram um grande amor que parecia que seria para sempre (e que de alguma forma manteve-se vivo).



Como seria encontrar um grande amor depois de 20 anos?

15.5.17

De março prá cá sei que parei no tempo.
Muitas pessoas tiram o ano sábatico, eu estou num tipo de semestre pós traumático.
Perder um pai assim tão presente é uma porrada forte.
A saudade dói pacas.
O trabalho está no piloto automático e o meu momento pessoal é bem introspectivo.
- Atenção senhores passageiros, por favor afivelem os cintos e mantenham a calma.Sobreviveremos todos!!!
Nem é uma fase tão ruim assim, tenho tido tempo para refletir sobre meus últimos anos e estou criando coragem, e ganhando forças, para mudar aquilo que precisa ser melhorado em mim.
Estou relendo velhos livros que ganhavam pó nas prateleiras.
Marquei uma médica acupunturista para o próximo mês.Gosto muito da medicina oriental e andava um tanto afastada dela.
Ando até dizendo alguns "nãos" necessários.
E ando pensando que a vida deve ser muito mais bem aproveitada, pois ela sempre é curta!


11.5.17

É muita calmaria para o meu gosto!
O país está parado.Os índices de inflação apontam uma leve queda, mas é claro, ninguém está comprando nada.Os que estão empregados levantam as mãos para os céus agradecendo e os que não estão continuam rezando.Por mais que eu queira um Estado laico, só por Deus mesmo.
Não combino muito bem com compasso de espera, sou uma pessoa de urgências.
E também não gosto muito de ver o que meu país se tornou.
Quanto mais eu penso menos soluções encontro.
Busco a calma em alguns lugares e conceitos, como no budismo.Até meditar é difícil demais quando meu cérebro anda dando tratos a bolas para sair da estagnação.
Música e os filmes também me distraem um pouco, melhor ainda se estiverem relacionados.



Se não, não tem problema também.
Preciso mesmo é dar descanso à minha parte pensante.

6.5.17

Eu tenho um problema...perco o sono, como muitas outras pessoas, aí tomo café, lavo louça e me distraio jogando no computador enquanto escuto Rita Lee.
Depois, motivada pela publicação de um amigo e pelo programa de ontem à noite sobre a Sicília, assisto novamente, acho que pela terceira ou quarta vez, "Stromboli", do Roberto Rossellini.
Filmão, com uma fotografia que marca presença.
Talvez perder o sono não seja um problema.
E ao final da manhã acabo mesmo é ouvindo repetidamente o Bocelli :

1.5.17

Darjeeling não é somente o nome de um dos tipos de chá que mais aprecio.
É também o nome de uma cidade cheia de modestos encantos e muita espiritualidade. Talvez um pouco tranquila demais para a pequena Vivien Leigh, que aos seis anos de idade foi enviada para uma escola católica na Inglaterra.
Visitar Darjeeling ficará certamente para uma próxima encarnação.Enquanto isto contento-me com uma boa xícara de chá!

  Foto: Justin Guariglia


30.4.17

Hoje damos adeus a Belchior.
Um homem que tive o prazer de entrevistar, por algumas horas, lá por 1990.Passados os primeiros 60 minutos lembro do meu diretor batendo no vidro do estúdio, depois de gesticular um bocado.
Mas Belchior tinha tanto para falar e falava com tanta propriedade sobre as coisas da vida que eu não achava justo interrompê-lo.E isso porque haviam me dito que ele falava pouco.
Foi uma das melhores entrevistas que fiz na minha carreira de jornalista e foi impactante, à noite não conseguia dormir, suas palavras ecoavam em meus ouvidos. Era muita informação, muito conteúdo de uma só vez, para uma garota de 23 anos.
Sua alma, enfim, encontrou o descanso merecido!

18.4.17

Ainda choro, pouco, mas choro e porque dói, dor de saudade, não de tristeza.
Mas o bom é que já faço planos!
Assim que possível, pai, vamos almoçar naquela praia que você ama de paixão:


Talvez no seu aniversário no próximo ano, porque neste ainda temos muito trabalho pela frente e ainda algumas arestas para acertar.
Aonde não cabe revolta, porque você me ensinou a deixar para lá, sobram força e determinação.
Muito mais força!

16.4.17

Os dias vão passando e o coração vai ficando mais leve...

8.4.17

Ontem foi dia de levar meu pai para o Cemitério, dizer enterrar eu acho um tanto tosco.
Ele não queria ser cremado e respeitamos a sua vontade.
Depois de uma semana no hospital vou dizer uma coisa, os médicos não sabem de nada, possuem uma leve noção de como as coisas acontecem.Por mais boa vontade que tenham não operam milagres e nem conseguem saber com precisão tudo o que está acontecendo dentro do corpo do paciente. É mais um jogo de tentativa e erro.
E ainda tem gente que os compara a deuses, alguns até se acham, mas vamos dissociar estes esteriótipos, deuses são deuses e médicos são médicos.
Ontem percebi, por conversas paralelas, que algumas pessoas tentam incutir-lhes culpa.Isto também não existe!
Meu pai partiu bem consciente de que seu tempo aqui estava chegando ao fim.Esse discernimento sobre a finitude da vida é acalentador.Foi uma despedida breve, tranquila e tristinha.
Porque o muito amar carrega consigo a dor da separação.
Tratei de trazer-lhe logo para perto de mim!
O que vale, depois de tudo, é o amor que ficou.
E este é muito!!!



  

4.4.17

Com o peito extremamente dolorido diante de tanto sofrimento pelo qual meu amado pai está passando só posso dizer que estou à espera de um milagre!
É certo que eles existem...
Só não quero mais que ele sofra.As próximas 48 horas serão decisivas.
A pior parte é não poder estar ao seu lado naquele leito frio e escuro da UTI.
Está sendo muito difícil lidar com isto.


2.4.17

Porque tem dias em que precisamos pensar um pouco fora da caixinha...e amar como se não houvesse amanhã.
Aliás essa tem se tornado uma das minhas máximas nos últimos tempos.
Acordo amando a vida, as pessoas, nem todas, mas enfim, a natureza e tudo mais ao meu redor.
Apesar dos percalços estou vivendo uma boa fase interior, estou curtindo muito o meu melhor de mim.
Até quando me emociono e choro, ou deixo escapar algumas poucas lágrimas pelo cantinho interno dos olhos, ando insuperável.
Ainda tenho meus momentos de fúria, poucos, mas precisos e cortantes como uma navalha afiada.
Mas na maior parte do tempo é só amor mesmo!!!

1.4.17

O ambiente hospitalar acaba comigo...principalmente quando atravesso com meus passos lentos e claudicantes a ala infantil.
Nessas horas queria abrir as asas e carregar todos para um outro lugar, nem que fosse só para um breve passeio.