23.11.14

Assim falou Zaratus.....quero dizer, Maiakovski:

“nos demais
 – eu sei, qualquer um o sabe –
o coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
sou todo coração
– em todas as partes palpita.”

E também:

LÍLITCHKA!
Em Lugar de Uma Carta (Petrogrado, 1916)


"De qualquer forma o meu amor
- duro fardo por certo -
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.

Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai e se deita na água fria.
Afora o teu amor para mim não há mar,
e a dor do teu amor
nem a lágrima alivia.

Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor para mim não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.

Se ela assim torturasse um poeta,
ele trocaria sua amada
por dinheiro e glória,
mas a mim nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.

E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora o teu olhar nenhuma lâmina
me atrai com seu brilho.

Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval -
dispersarão as folhas dos meus livros…

Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar, respiração opressa?
 Deixa-me ao menos arrelvar
numa última carícia
teu passo que se apressa."


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