27.4.12

No ir e vir de uma grande cidade as horas que gastamos no trânsito fornecem-nos crônicas quase que diárias.Véspera de feriado prolongado, o trânsito costuma ficar um tanto mais caótico, embora somente em vias de saída da cidade.O sentido contrário fica praticamente deserto.E hoje circulei entre essas duas realidades um par de vezes.Mas não considero tempo perdido e graças aos avanços tecnológicos, enquanto dirijo, e sem tirar as mãos do volante, vou falando ao telefone e resolvendo questões que antigamente só seriam resolvidas dentro do escritório.E tenho um plus, vou escutando minhas músicas favoritas, o que torna estes percursos mais agradáveis. E cá entre nós, vou até sorrindo, o contrário da grande maioria que segue apressada e com as mais variadas caretas.Passei ao lado de uma senhora que mais parecia uma serial killer em um dia de fúria, ela ia enfiando o carro aonde desse e resmungando, num visível mal humor de comer o fígado de qualquer cristão.Achei até graça!
A rodovia que pego todos os dias parecia uma arena de gladiadores.
São 3 pistas e todas estavam um caos com malucos acelerando e costurando de todo lado.Eu fui caindo para esquerda conforme dava. Mas eu estava zen, afinal hoje consegui fazer minha aula de Pilates.Enquanto isso, lá ia Ivan Lins cantando:" Ô Madá, ô Madálê...ô Madalelelelena."..
Eu juro que não aguento quando ele canta: "O que é meu não se divide e tampouco se admite quem do nosso amor duvide...até a lua se arrisca num palpite, que o nosso amor existe, forte, fraco, alegre ou triste."
E paro prá pensar quando escuto: "O meu peito percebeu que o mar é uma gota comparado ao pranto meu...fique certa de que quando o nosso amor desperta, logo o sol se desespera e se esconde lá na serra."
Não posso reclamar do amor que recebi, que recebo, que compartilhei e que continuo compartilhando, mas seria bonito ser a Madalena de alguém.
E os carros passando e eu lá dentro do carro num outro universo, tão distante do real, tão bruto e tão urgente.Saindo da estrada peguei novamente mais trânsito e olhando para aqueles rostos carrancudos lembrei da semana horrorosa que tive, das discussões que enfrentei, das pessoas que tentaram argumentar em vão, com os olhos faiscando de raiva.Honestamente desejo que recebam exatamente tudo aquilo que me desejaram e que saibam arcar com as consequências de atos impensados.Como disse anteriormente, hoje estou zen, mas não boazinha.Mais um semáforo congestionado e volto para a voz que ecoa dentro do carro:


E ao contrário da letra da música, nestes próximos dias não quero ir para a capital, quero me perder no interior, no interior de mim mesma.E com o cheiro do cravo, do jasmim e do hortelã. E o trânsito? Sei lá, deixei-o para trás faz tempo, naquele último semáforo.

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