18.10.10

Na semana passada uma colega jornalista me chamou de ingênua por apoiar incondicionalmente Marina Silva.Me perguntou se eu não estava vendo que ela era um figura fabricada, uma farsa. Disse ainda que o maior problema do Brasil era a fome e que não aceitava uma candidata (ex) que demagogicamente defendesse a natureza. Essa minha colega disse também que era favorável às obras de expansão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e da transposição do Rio São Francisco, como uma solução para minimizar a problemática da fome no país, mesmo que isso representasse um "pequeno" prejuízo ambiental. Eu não discuti, afinal de nada iam adiantar as minhas palavras diante do seu radicalismo.
Eu não disse que a transposição do São Francisco vai acabar com espécies de peixes que representam a alimentação básica da população ribeirinha, como também são parte importante do seus ganhos, que já são tão poucos.
Não disse também que o desmatamento de áreas próximas às margens dos rios trazem o assoriamento e que pode inclusive levar à desertificação. E que conforme o progresso vai avançando, avança também a poluição.

É fácil defender o progresso, à qualquer custo, do alto de um edifício na capital da maior cidade do país.É fácil achar que Marina defende somente a natureza e questões de sustentabilidade quando o máximo que você conhece da natureza é uma praia de veraneio ou uma cidade turística nas montanhas.
Não, minha amiga, ela também defende com unhas e dentes o acesso à educação.Aí sim concordo com você, Marina é um produto, produto da educação.E foi graças ao Mobral que ela chegou lá e hoje pode falar com propriedade de um país tão deficiente nessa área.
Os meninos voltaram da floresta trazendo notícias.As crianças continuam sem acesso à escola. A realidade delas ainda é muito distante da realidade das crianças que crescem nas cidades grandes. É verdade que eles não tem acesso à videogames, lanhouses e outras modernidades. Elas são felizes, embora inicialmente um pouco desconfiadas dos visitantes, brincando nas margens dos rios e nas lagoas de água cor de refrigerante de cola. Infelizmente já encontramos por lá uma quantidade incômoda de garrafas plásticas e outros lixos. Mas o rio ainda dá peixe, a floresta ainda dá frutos e o quintal ainda dá mandioca. A floresta ainda guarda histórias e lendas.E era bom que continuasse assim.

Desta vez não foram até a aldeia, mas confraternizaram com uma comunidade ribeirinha.Eram uns 20 adultos e umas 15 crianças.Levaram carne para o churrasco e brinquedos para as crianças.
Elas não passam fome, passam sim é vontade.Mas aí é vontade tudo quanto é coisa, inclusive de educação e conhecimento. E se não pensarmos em preservar o meio ambiente, aí sim elas poderão passar fome de verdade. Porque ao contrário da seca que assola a população dos sertões, a floresta frutifica e bem. A Segurança Alimentar está diretamente relacionada com atitudes de preservação ambiental e políticas públicas de sustentabilidade.
As mulheres da comunidade ribeirinha aprenderam a retirar da floresta, sem depredá-la, material para artesanato.São colares, pulseiras, cestarias e artigos de decoração que ajudam na renda familiar. Assim como o pescado é a principal fonte de renda dos chefes de família.
E não querendo discordar, já discordando, da minha amiga e de seus amigos, eu acredito na Marina. Eu já acreditava nela quando ainda senadora e espero um dia que ela mesma, ou pelo menos aquilo que defende, chegue à presidência do nosso país.

5 comentários:

Teté disse...

Concordo! É necessário ver a floresta, mas também a árvore. Com a "resolução" de problemas imediatos e a curto prazo, pode-se eventualmente delapidar todo o património ambiental e fazer perigar o futuro de gerações actuais ou vindouras.

Note-se que é com a posição que concordo, não com os candidatos políticos, que praticamente desconheço, até porque se forem iguais aos portugueses, prometem uma coisa e fazem outra diametralmente oposta... :S

Beijocas tugas! :)

Paloma disse...

Concordo totalmente com tudo dito
neste texto.Como também lamento
que o povo brasileito não tenha
votado na Marina.Acredito que ela
faria um bom governo.
Abraços

Luma Rosa disse...

Essa eleição será a eleição da discordia! Nunca presenciei políticos como os de agora insejando discussões bestas, desviando o foco do que deveria ser um pleito eleitoral, mostrando as suas propostas e dignamente se tratando! Sem querer ofender o nosso presidente, mas já ofendendo: Parece que estamos em um botequim! Marina saiu muito magoada do governo e entendi perfeitamente - afinal, Lulla lhe deu às costas. Também votei em Marina e acredito que um dia ela será a nossa presidente e no segundo turno vou votar em Serra. Não que eu seja tucana, mas por causa de tudo o que a Dilma representa. Beijus,

Anônimo disse...

Um dia, mais tarde ou mais cedo, as pessoas pelo mundo inteiro vão despertar para as questões ambientais com o mesmo pavor com que hoje olham para a crise financeira. Nessa altura, os que põem a economia à frente do ambiente, vão perceber que o dinheiro de nada lhes vai servir, salvo se entretanto os seus aparelhos digestivos se tiverem adaptado a outro tipo de alimentação, que inclua engolir acções da bolsa, notas e moedas.
Claro que também não nos podemos pôr na posição de só olhar para o ambiente e desprezar a economia.
Mas, no meio de tudo isto ( e só para nós), a imparcialidade de Marina Silva desiludiu-me. Como escrevi há dias, o desenvolvimento do Brasil não está em causa, seja qual for o candidato eleito, mas o modelo de desenvolvimento é que será indubitavelmente diferente e pode ser decisivo no futuro do Brasil.
Marina Silva sabe que não é indiferente ser Dilma ou Serra a vencer. A sua neutralidade parece-me fruto de algum despeito. Não esperava isso dela...

Carlota e a Turmalina disse...

Teté...é bom que sejamos pessoas que vemos não só a floresta, como também as árvores, os rios, seus frutos e sua vizinhança.Bjos :o)
Paloma...espero que seu sucessor(a) não faça muitos estragos. Só aqueles remediáveis :o)
Luma...tenho você em altíssima conta, em muitas vezes tomei-a como exemplo, e compreendo perfeitamente o seu posicionamento.Eu bem que gostaria de ter um candidato para votar nesse segundo turno.Mas como sou extremamente emocional e quase nada racional, não tenho nenhum. E votei na Marina com o coração o)
Carlos querido...você entende muito mais do assunto do que eu.Mas, honestamente, não acredito que os dois candidatos atuais tenham alguma proposta (que venha a ser posta em prática) inovadora de um modelo de desenvolvimento eficiente. Acredito que eles darão continuidade ao modelo já instituído, com talvez, pequenas modificações.
E não acredito também em retrocesso como os defensores dos dois lados andam alardeando.
Politicamente, concordo que a neutralidade de Marina não seja lá uma atitude vista com bons olhos.Mas é coerente com o discurso dela para o primeiro turno. Eu continuo apostando nela.E foi assim como quando ela foi Senadora por duas vezes e Ministra. Sua postura, ao meu ver, mostrou um caráter forte e determinado, construindo uma imagem para 2014.Eu admito que possa estar errada, mas isso só tempo dirá :o)