25.2.10
O frio entrava-lhe pelos espaços vazios do casaco esfriando-lhe a alma. Chorava como chora uma criança que não quer partir, que tem medo.Suas mãos trêmulas sabiam o que fazer, seus lábios não lhe obedeciam e as palavras ficaram perdidas.Naquela pequena caixa estava a chance de um futuro.E foi sem olhar para trás que ela devolveu-lhe a caixa que encerrava alí um compromisso.Só teve tempo de escutar um soluço. E mesmo assim seguiu adiante sabendo que não poderia voltar atrás.Ela queria mudar o mundo e ele a si mesmo.Passaram-se os anos, mudaram as cidades e as pessoas.Veio o calor e depois o frio, e assim consecutivamente.As crianças cresceram, árvores morreram e eles envelheceram.A lembrança daquele soluço muitas noites tirou-lhe o sono.Quantas vezes pensou em voltar, mas era um caminho sem volta. A vida foi deixando-lhe marcas, enquanto tentava mudar o mundo. Enquanto que ele, mudando a si mesmo, foi deixando de ter marcas.Hoje vivem das lembranças do que poderia ter sido uma vida incomum.
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Um comentário:
Marcas como estas são indeléveis, podem não aparecer, mas estão sempre lá. São como lembranças boas do passado, a maior parte do tempo estão ocultas numa caixa como a que descreveu, mas estão lá, aparecem assim que a caixa é aberta.
Entretanto, os caminhos da vida são tortuosos e muitas vezes até convergentes, uma hora ou outra se cruzam ou até quem sabe se juntam.
As lembranças, muitas vezes vívidas nunca perdem o viço. Esquentam o coração quando chegam e acalmam o espírito quando se instalam.
O amoré assim, pode ser eterno, mesmo quando parece impossível.
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