"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida." John Dewey
Em que época estamos vivendo???
Definitivamente numa época de degradação.E na contramão desse movimento encontram-se os mais puritanos.Ou melhor, os que se dizem mais puritanos.
Ontem meu filho saiu da escola um tanto calado.Ele é assim mesmo, leva um tempo para falar das coisas que o estão aborrecendo.Mas era visível que tinha alguma coisa errada.
Eu vou voltar um pouco no tempo. No começo do ano o professor de filosofia (do ensino fundamental), numa prova sobre a relação do homem com os bens de consumo, deu uma nota bem baixa para a minha cria. Entre outras coisas meu filho escreveu que ter uma casa, um carro e um computador não é necessário para que a pessoa viva, estude ou trabalhe.E que as pessoas podem ser felizes sem isso.Por outro lado o professor defendeu a idéia de que numa sociedade de consumo como a nossa, esses itens são artigos de primeira necessidade e que a visão do meu filho é utópica e que ele não a levaria em consideração.E ele não levou e conseqüentemente a situação nessa disciplina não está nada confortável.
Ontem durante a aula, comentando o filme "Virgem aos 40" , as "crianças" comentavam a opção da pessoa em manter-se virgem até encontrar o amor da sua vida.É claro que veio à tona a questão da pessoa que continua virgem por total falta de oportunidade e não falta de vontade. E no meio da discussão, já no finalzinho da aula, meu filho diz:
- Se eu fosse ele, e ainda não tivesse transado aos 40 anos, eu procurava um "puteiro" e pagava para resolver o meu problema.
A reação do professor foi surpreendente.Ele disse que se meu filho repetisse aquilo outra vez que ele seria suspenso.Surpreso, meu filho tentou ainda entender a reação do professor:
- Mas por quê?
A resposta, no meu ponto de vista, foi ridícula:
- Se você fala esse tipo de coisa na sua casa, problema do seu pai e da sua mãe. Mas aqui você não vai falar porque eu não sou lixo prá escutar.
Tocou o sinal, a classe se dispersou e a conversa morreu aí. Mais tarde, ao me contar o que aconteceu, quem se sentiu ofendido foi meu filho.Afinal a casa dele não é lixo e seus pais dialogam muito com ele e aqui ele tem o direito de se expressar livremente. E eu tenho o direito de concordar ou discordar dele.E falando justamente sobre filosofia, Voltaire já disse que:
"Não concordo com o que dizes, mas defendo até a morte o direito de o dizeres".
E eu pergunto:
- Como assim, professor? O que o ofendeu? Foi a palavra "puteiro" ? Eu acho que escutamos coisas bem piores nos telejornais e novelas. Foi com a forma prática que meu filho encontrou para resolver o problema em questão?
Ora, vão me dizer que nem o professor e nem os outros alunos sabem que existem profissionais do sexo que trabalham para aliviar as pesssoas em inúmeras situações.E ainda que é uma atividade considerada profissional. E que estão tentando até regulamentá-la.
Por mais incrível que pareça, a coisa não acabou por aí. Na segunda feira cedo o coordenador marcou uma reunião comigo para compreender exatamente o que se passou em sala de aula.E eu posso com isso? Não sei a posição que a escola, como instituição, vai tomar. Mas a minha é clara.Eu não concordo que numa aula de filosofia o direito de expressão não possa ser respeitado.
"Se você acha que sua crença é baseada na razão, você a defenderá com argumentos e não pela força, e renunciará a ela se seus argumentos se mostrarem inválidos. Mas se sua crença se baseia na fé, você perceberá que a discussão é inútil e, portanto, recorrerá à força, ou na forma de perseguição ou anestesiando e distorcendo as mentes das crianças no que é chamado 'educação'." Bertrand Russell
5 comentários:
viva turmalina
boa sorte na reunião de pais. depois dê notícias do desenrolar da situação. parece-me que a situação foi bastante empolada, não havia necessidade.
abraço do outro lado do atântico
zoe
Adorei a história!
Não apenas seu filho mas com certeza isso também deve acontecer com muitas outras "crianças" por aí. Censurar não adianta. as instituições de ensino devem saber se adequar ao mundo em que vivem, assim, o professor do seu filho ao invés de puni-lo ou censurá-lo poderia agarrar esta oportunidade para iniciar uma discussão interessante com os jovens e conhecê-los melhor, saber o que pensam e como agem. De que adianta não conhecer o público com que você trabalha? Não adianta termos professores que ainda lecionam sem se atualizarem e acompanharem as mudanças comportamentais e atitudinais dos jovens.
Abraços!
Zoe e Letícia...eu acredito que foi mesmo falta do professor em saber lidar com a situação. Infelizmente estamos vivendo num mundo de despreparados ensinando um tanto de despreparados que um dia vão substituí-los.
Ah, Turmalina, pelo que vejo a crise na educação não é só aqui em Portugal. Que azar o do seu filho... logo Filosofia, que deveria servir para abrir horizontes, fomentar polémicas, formar o espírito. E que sorte a dele, em ter uma família como tem, onde se fala abertamente.
O grande problema é que nas escolas há pessoas a ensinar sem qualquer vocação para tal. Penso que os professores deveriam ser intensamente escrutinados na medida em que a influência que podem exercer nas crianças pode ser desastrosa. Para já, numa aula de filosofia não deveriam haver mordaças, porque então, é-se incapaz de criar um pensamento livre. Esse professor está mais preocupado em demonstrar a sua autoridade do que com os interesses das crianças, o que devia fazer era ouvi-las sem fazer alardes e ensiná-las a pensar.
Talvez o seu filho tenha uma visão poética do que é a vida, quando diz: Que para se ser feliz não é condição essencial possuir uma casa, um carro e um computador, mas é normal que assim pense, porque é muito jovem. O que não é normal é um professor atribuir uma nota baixa só porque um aluno não defende as mesmas ideias que ele, professor. Desde que o seu filho, tivesse sido capaz de justificar com argumentos, porque é que assim pensa, citando um exemplo para sustentar a sua opinião, seria merecedor até da nota mais alta. Não serão muitos, mas há pessoas tão desprendidas dos valores materiais que conseguem viver bem consigo próprios, mesmo vivendo uma vida desprovida de muitas coisas que são essenciais a outros.
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