13.1.09

Dona Laurita vivia sozinha.Viúva, 68 anos, os filhos moravam longe e não faziam questão de fazerem-se presentes.Uma vez ou outra lembravam-se de telefonar.Mas ela não se fazia de rogada, tinha três gatos e até um peixinho no aquário. Bem, o peixinho era herança de um dos netos que deixou lá por motivo de viagem e nunca mais voltou para buscá-lo.E não é que o peixinho era resistente?
Laurita se orgulhava de fazer tudo sozinha.Compras ela aprendeu à fazer pela internet.Com um freezer e um microondas seu sustento estava garantido.Não que ela não gostasse de cozinhar. Mas no dia em que voltou do enterro do marido colocou um vaso de violeta em cima da tampa do fogão. Cozinhar, à partir daquele momento, só por prazer.
Seu prazer mesmo eram os livros. Sua estante já não tinha mais lugar para eles.Com seu temperamento inquieto procurava sempre um trabalho manual para ocupar-se.Tudo o que confeccionava doava para os vizinhos e amigos. Sua casa vivia cheia, parecia mais um consultório sentimental.Tinha conselhos para todo mundo.Na verdade, seus filhos não lhe faziam falta, porque o que não lhe faltava era carinho, amor e atenção.
Lia o jornal todinho pela manhã, que aos domingos, vinha sempre acompanhado de uma rosa. Desde que ficara viúva o tal botão de rosa aparecia toda manhã. Isso durou 7 anos. Não falhou um só dia. Até que uma determinada semana Dona Laurita desculpou a falta, como sendo parte da vivência humana, o imprevisto. Mas as semanas foram se passando e nada.
Nossa querida Dona Laurita não se conteve e procurou o entregador de jornais.Descobrir o remetente das rosas foi muito mais fácil do que pensava. Ela não se perdoou por não ter tido essa idéia antes. É claro que à princípio ela não acreditou no nome que o dono da floricultura lhe informou.Afinal era o nome do seu primeiro namorado.
Laurita, com aquele espírito inquieto que lhe era peculiar tratou logo de fazer investigações por conta própria.Não demorou muito para descobrir que ele havia falecido naquela fatídica semana em que a rosa não chegou.Mais uma vez ela ficara sem respostas.
No domingo seguinte se arrumou, colocou a roupa mais bonita, os sapatos mais macios, o perfume que mais gostava e se dirigiu ao cemitério. Demorou um pouco mas encontrou a sepultura do seu antigo amor da adolescência. Depositou alí umas flores, suas mágoas, sua saudade, suas dúvidas, alegrias e principalmente seu amor. Voltou para casa com os olhos cheios d'água e a alma dolorida. Estava calada e com o andar cabisbaixo.Os vizinhos nunca a tinham visto daquele jeito.
Entrou em casa, levantou a tampa do fogão, separou o liquidificador e todos os ingredientes e então começou à cozinhar. Dona Laurita colocou uma linda mesa para dois com cristais, candelabros, velas e tudo mais.Abriu seu melhor vinho e dispôs os crepes perfeitamente decorados nos pratos à mesa. Retirou o avental, arrumou o cabelo, acendeu as velas, sentou-se, olhou para a mesa posta e fechou os olhos.
No dia seguinte a vizinha encontrou-a exatamente assim: as mãos sobre a mesa, os olhos fechados e a expressão serena.Dona Laurita morreu aos 75 anos.
(Carla Lopes)

5 comentários:

ArmAzém da SaNdrA disse...

tive uns probleminhas no meu pc e perdi todos os links...inclusive o seu ,mas agora tá tudo bem
Que história hein?
um pouco triste e melancólica né....
as vezes a gente espera muito dos outros e não recebe nada ........o importante é a gente se dar o melhor independentemente,pq a vida passa muito rapido e o melhor é o presente..o hoje,depois não adianta chorar
bjkas

Luci disse...

pois é, a vida passa rápido demais.
mas que texto , é de sua autoria?
bye bye

Lilica disse...

Nossa, mas que texto lindo. Beijos

1/4 de Fada disse...

E não é que me deu para ficar de lágrima no canto do olho?

Anônimo disse...

nó no estômago